quinta-feira, 7 de julho de 2011

Livro: Limites sem trauma

Trechos do livro Limite Sem Trauma,
de Tania Zagury
Limites, sim ou não?
Antigamente, ninguém sequer discutia o assunto.
Criança não sabia e, portanto, precisava aprender. E nós, adultos, tínhamos de ensinar. De maneira que, por exemplo, quando o menino fazia algo errado, respondia mal à vovó, agredia um coleguinha ou não queria fazer o "dever de casa" os pais não tinham dúvidas - agiam, corrigiam, "davam castigo" - muitos até batiam!!! (Lá em casa, temos guardada uma aterrorizante e incrível palmatória - que meu marido, um belo dia, conseguiu com a ex-professora primária do meu sogro, para figurar na sua coleção de antigüidades... com o caráter especialíssimo de ter sido usada no avô dos meus filhos, quem haveria de crer hoje?)
Com as mudanças ocorridas durante o século XX, tanto no campo das relações humanas como no da educação, as pessoas foram aprendendo a respeitar as crianças, entendendo que elas têm, sim, querer (há pouco mais de três décadas nossos pais diziam com toda segurança "criança não tem querer", quem não lembra?), gostos, aptidões próprias e até indisposições passageiras - exatamente como nós, adultos.
Com isso, sem dúvida, muita coisa melhorou para as crianças - e, claro, para nós adultos também. O relacionamento entre pais e filhos ganhou mais autenticidade, menos autoritarismo. O poder absoluto dos pais sobre os filhos foi substituído por uma relação mais democrática. E o entendimento cresceu... Todos ficaram felizes... Será? Será que as coisas aconteceram assim de forma tão harmoniosa, com todos?
Na verdade, não. Em muitos casos, surgiram problemas, porque ocorreram uma série de enganos e distorções em relação a essa nova forma de relacionamento familiar.
E por quê? Será que essas novas teorias estavam, afinal, erradas? Em parte sim e em parte não. O problema maior que ocorreu - e ainda vem ocorrendo - é que muitos pais estão tendo sérias dificuldades para colo- car em prática essa nova forma de educar, que é de fato muito mais difícil.
Como saber a hora de dizer sim e a hora de dizer não? Aliás, perguntam-se, aflitos, muitos pais, há, de acordo com essas novas teorias, realmente uma hora para dizer não? Negar alguma coisa para os filhos parece um crime, um verdadeiro pecado atualmente, ou, no mínimo, um ato autoritário, um modelo antiquado de educar. Afinal, tantas obras publicadas indicam tudo que não se deve fazer e tão poucas oferecem realmente uma diretriz para clarear o caminho de quem quer bem orientar os filhos...
Muitos papais e mamães ficam em sérias dificuldades ao tentarem colocar em prática aquelas idéias tão lindas que tinham em mente ao iniciarem o longo e delicado caminho da formação das novas gerações: "comigo vai ser tudo diferente; não vou ser igual aos meus pais em nada...", afirmam, convictos. Cheios de boas intenções lá vão eles e... de repente, as coisas deixam de ser tão simples e fáceis. Ao contrário. O dia-a-dia parece se tornar muito, mas muito complicado mesmo. Ai, meu Deus, o que fazer?
Aquele relacionamento ideal, perfeito, em que a mamãe, com todo carinho (e com toda razão), explica (sem nenhum autoritarismo e cheia de compreensão), que aquele cd que o filhinho arranhou, tão inocentemente, tadinho - não era para ser riscado... mas, mesmo com toda conversa, com todo afeto demonstrado e outras tantas racionais explicações, o cd foi arranhado, sim. E não apenas um, mas vários! Explicado assim, com tanto carinho e amor, deveria ter funcionado, afinal usou toda a psicologia, não foi?... Então, o que está acontecendo? Depois de falar, explicar, sorrir, explicar de novo, acariciar, entender, compreender - tudo, tudo, conforme manda o figurino da nova educação - não é que parece que seu doce filhinho não entende o diálogo? Pois, afinal, não se foi para o lixo toda a ma-ra-vi-lho-sa coleção de cds do maridinho?... Como é que pode? E agora?
Onde foi que eu errei? perguntam-se, desesperados, os pais. Afinal, conversam, explicam, não agridem, não impõem, não batem, não castigam... e, no fim, a vida está virando um verdadeiro inferno, quanto mais fazem, mais os filhos querem que se faça, já não sabem mais o que dizer, como agir, estão desesperados! Um belo dia, percebem-se, admirados, a dizer "no meu tempo não era assim", aquela frase odiável que ouviram tantas vezes e, agora, quem diria, eles próprios a estão dizendo, e o que é pior, resolveram "virar a mesa", estão castigando os filhos, berrando, se escabelando, irritados, perdidos...
Parece o fim do mundo? Parece. Mas, felizmente, não é.